Tanta coisa, tanta
não me peças perdão, a culpa é minha:
foi este tempo todo descuidado,
foi não achar que o fim um dia vinha
foi ficar sem defesas a teu lado
foi nunca te lembrar em sobressalto
foi não deixar falar a tua boca
foi não pensar em ventos no mar alto
foi tanta coisa, tanta, hoje tão pouca
foi deixar-me viver em falsa paz
foi afagar-te as mãos sem as prender
ou foi prendê-las mal e tanto faz
julgar que se morria de prazer
agora é tarde, sim, tarde de mais,
tropeço às cegas nesta dura lei,
não sei se vale a pena dar sinais
e o que te hei-de dizer também não sei.
Vasco Graça Moura
(Poesia 2001-2005, Quetzal, 2006, pág. 77)
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