quinta-feira, novembro 02, 2006


para a minha filha

Dai-me outra vida e estarei no Caffè Rafaella
a cantar. Ou estarei sentado a uma mesa,
simplesmente. Ou de pé, como um móvel no corredor,
caso essa vida seja menos generosa que a anterior.

Contudo, em parte porque nenhum século daqui em diante
conseguirá passar sem jazz nem cafeína, aguentarei esse desplante,
e pelas minhas rachas e poros, verniz e todo de pó coberto,
observarei, daqui a vinte anos, como a tua flor se terá aberto.

De um modo geral, lembra-te de que estou por ali. Ou melhor, que
um objecto inanimado pode ser o teu pai, sobretudo se
os objectos forem mais velhos do que tu, ou maiores. Não
os percas de vista, pois, sem dúvida, te julgarão.

Seja como for, ama essas coisas, haja ou não encontro.
Além disso, pode ser que ainda te lembres duma silhueta, dum [contorno,
ao passo que eu até isso perderei, juntamente com a restante [bagagem.
Daí estes versos, algo toscos, na nossa comum linguagem.

1994
[joseph brodsky, trad. carlos leite

3 Comments:

At 2.11.06, Blogger Pesa-Nervos said...

Coisas fina, diz ae qual o nome do livro, um abraço, Franklin

 
At 2.11.06, Blogger Nonato Gurgel said...

"Paisagem com inundação", livros cotovia

 
At 3.11.06, Blogger Pesa-Nervos said...

Anotado, abração, Franklin

 

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