Rasputine
A última vez que te vi
andavas a ler a vida de Rasputine,
a última vez que te vi
atribuías muita coisa ao hipnotismo e ao desejo
de morrer,
a última vez que te vi
falavas sabendo que as palavras não chegavam
até mim, aves migratórias sem verão,
a última vez que te vi
tinha os olhos no chão mesmo quando os levantavas,
a última vez que te vi
deste a entender que a maturidade antecede vinte
e quatro horas a desilusão,
a última vez que te vi
deixaste comida no prato,
a última vez que te vi
não chegavas a ter pena de Nicolau e Alexandra,
a última vez que te vi
pensavas que era muito mau gostarmos
das mesmas canções,
a última vez que te vi
dizias que as fotografias
nas gavetas estavam agora mais tristes
do que quando foram tiradas,
a última vez que te vi
já não pensavas em crueldades e polaroids
mas em viajar tão natural e precariamente como os outros
na pequeníssima dimensão da eternidade,
a última vez que te vi
foi a última vez.
[pedro mexia
[avalanche, quasi, 2001
2 Comments:
provavelmente, depois de manuel bandeira, não?
Revisitando Lisbon?
Mande notícias, abraço,
Franklin
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