quarta-feira, janeiro 10, 2007



Incübus


Aquele que mata decifra.
Está sobre o crime
como quem maneja deus.

*

Consideremos o crime:
o modo como a navalha dele extrai
a própria mutação.
Porque todo objecto aspira
a exceder a sua exatidão. A devir.

*

Por vezes estou sobre as facas como quem intenta.
Outras é o metal que reverbera onde enlouqueço.

Sei que o crime encerra a sua própria geometria:
o golpe incide onde o erro é um refração.

Abro na lâmina uma veia para correr.

*

Um nervo arrebatado à exactidão.
Sobre ele edifico o método.
Há o propósito e o axioma implícito:
a queda não é interceptável.

Chega-se ao crime pelo exercício da evidência.

[jorge melícias
[incübus, quasi, 2004