sexta-feira, abril 13, 2007

Enterraremos tudo,
os braços, o movimento e a pá,
a paixão de sexta-feira,
a bandeira de andar sós,
a pobreza, essa dívida,
a riqueza, essa outra.

Enterraremos tudo até com sabedoria,
cortando sabiamente os pedaços,
ou cortando-os sem nos darmos conta, sabiamente.

Um resto de olhar
ficará flutuando como um pincel absurdo
sobre a trégua duplamente fiel de tudo ausente.
E menos mal que não haverá ninguém
para escavar logo bem fundo
e descobrir que não há nada enterrado.

roberto juarroz, trad. arnaldo saraiva
poesia vertical, campo das letras, 1998

1 Comments:

At 11.11.08, Anonymous Anônimo said...

Well said.

 

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