sexta-feira, abril 13, 2007

O tempo do cabelo não é o tempo do homem,
o tempo das tuas mãos gira noutro sentido,
eu não tenho mais tempo do que nunca foi tempo
e o futuro é uma cruz no dorso
dos que ainda têm dorso.
Amanhã viajaremos até ao ontem nu
como um zero a uma cifra.
Amanhã vou instalar-me em tua voz,
sobre um tempo distinto
do tempo que percorre as palavras.
Amanhã habitaremos
a absoluta coincidência sobre um ponto
do começo ao fim
do que não era um ponto,
mas o tempo de um ponto.
Só um zero é distinto de outro zero
e algo começa a contar tudo de novo a partir dessa diferença.

Há um tempo do olho
que deixa de olhar para trás ou para diante
e se detém em si mesmo.
E há um tempo do tempo,
do encontro do tempo com o tempo,
um transcorrer já sem testemunhos,
uma duração duração.

O ponto é o resumo.
É necessário vigiar o ponto.
Sobretudo este ponto final.
Ou talvez o que segue.

roberto juarroz,
trad. arnaldo saraiva