quinta-feira, outubro 12, 2006

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Quando a bic vira sonda - bico
cisca até no cimento, interrogando
mecânica, maníaca, o chão duro
impassível, insuspeito, simétrica e seco
e põe, nesse emprego, de cabeça para baixo
o ponto de interrogação, agora anzol
que busca algo em água nenhuma
pois desconfia que há outra vida
embaixo da casca da superfície limpa e lisa.
Aposta na existência, rugosa e úmida
da pedra submersa no mundo do pensamento
a ao imaginá-lo, a alimenta - lá dentro
aqui fora - e o que não foi peixe
é uma espécie e pássaro áspero
que se irradia no ar, direto da caixa-de-força.

15 viii 2003
[ armando freiras filhos, RaroMar, 2006