quarta-feira, novembro 15, 2006

Saul e David tocando diante dele

Saul está fechado no palácio de seu silêncio,
cativo da melodia de seu pagem e inimigo.
A curva da harpa é um pórtico fechado
que não o deixa entrar no vergel melodioso.

E as finas mão de David entre as múltiplas cordas
são como claros pássaros do outro lado das grades,
seu vôo se aproxima e afasta, alternativo.
Vôo elevado, vôo longo e saudoso,

levado pela quimera
até a porta do cântico.
E Saul escuta-o, com sangue nas têmporas,
atira a lança que vibra no espaço
e enterra-se
na parede.

E Saul ficou de mãos vazias.

dan paguiz (1930-1986)
trad. cecília meireles