quarta-feira, novembro 15, 2006

você com certeza se lembra

Depois que todos se vão
fico sozinha entre os poemas.
Alguns são meus,
outros não.
Gosto mais dos poemas que não são meus.
Fico em silêncio
e a pressão abandona a garganta.
Fico,
mas às vezes queria que não ficasse ninguém.
Deve ser agradável escrever versos.
Você sente o quarto e as paredes crescendo,
as cores estão mais fortes.
Você queria que não ficasse ninguém.
Não compreende bem o que se passa.
Parecia que pensava em duas coisas de uma só vez.
Depois tudo passa e se transforma em cristal puro.
Mais tarde o amor.
Narciso se adorava.
Idiota aquele que não compreende também que não amava o rio.
Você está sentada sozinha,
seu coração dói, mas não se parte.
Lentamente vão se apagando as figuras desbotadas,
logo vão se apagando os defeitos.

Mais tarde aparece o sol, meia-noite,
e você se lembra ainda das flores escuras.
Queria estar viva, morta ou outra coisa.
Talvez exista um país que ame.
Talvez exista uma palavra.
Você com certeza se lembra.
Idiota o que permite que o sol se ponha na hora que quiser,
ele sempre consegue escapar das ilhas do oeste.
Até você virão sol, lua, as estações,
tesouros sem fim.


dahlia ravikovitch
versão: l.g.