pequeno sutra da mais completa ignorância
não sei migrar para o sul quando chega o verão, nem caminhar sobre o carvão em brasa
carroças já não passam por minha boca
desconheço regras de retórica, o manejo de sombras, tipos exóticos de peixes, datas e aparatos de cerimônia
sei que tenho 32 dentes, leio livros e jornais, vou ao mercado e ao cinema, escuto música clássica e popular, e posso dizer de cor os números dos meus documentos, além de uns poucos poemas aprendidos há muito tempo
teimo também em me lembrar dos conselhos dos amigos, que permanecem vagando desacertados entre frases que de algum modo saltam prontas de minha garganta
não posso, apesar de grandes esforços, distinguir o fútil do necessário, o que me vale tantas horas misturando fadiga e prazer
nenhum balanço pode ser feito
apesar de meus olhos e meus pés se considerarem auto-suficientes na avaliação das distâncias, acabo sempre por tropeçar numa pessoa ou numa pedra
Caio Meira,
Coisas que o primeiro
cachorro na rua pode dizer
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