domingo, outubro 29, 2006

Manners before morals!
Oscar Wilde

Lover, lover, lover

I asked my father, I said: Father change my name. The one I'm using now it's covered up with fear and filth and cowardice and shame. He said: I locked you in this body, I meant it as a kind of trial. You can use it for a weapon, or to make some woman smile. Then let me start again, I cried, Oh please let me start again. I want a face that is fair, I want a spirit that is calm. I never turned aside, he said, I never never walked away. It was you who built the temple, It was you who covered up my face. You may come to me in happiness Or you may come to me in grief, You may come to me in deepest faith Or you may come in disbelief. Lover, lover, lover, come back to me.
.
[leonard cohen, New skin for the old ceremony

quinta-feira, outubro 26, 2006

Beatus qui tenebit
et allidet parvulos tuos
ad petram



Pausa e peixes. Mover-se em relação
ao que se move permanece imóvel.
Muda o registro, árvores mais pássaros
igual talvez a casa menos chuva.
Muda outra vez: a mesma marianne moore
– que traduziu até algumas fábulas
de la fontaine – ao ler o verso abaixo:
where there is personal liking we go.
Sim, hoje marianne, amanhã jacob
e assim seguindo, sob a mesma chuva,
de nome em nome até tocar o chão,
i.e., até que cicatriz alguma
possa impedir que homônimos raquel,
lia e filhos estejam entre os seus.

[ leonardo gandolfi, No entanto d'água

quarta-feira, outubro 25, 2006

Às vezes penso: o lugar é tremendo.

terça-feira, outubro 24, 2006

Às vezes penso: o lugar é tremendo.

segunda-feira, outubro 23, 2006


A musa não queria calar, nem usara suas quotas,
era o cara que tinha de bater suas botas.
E a garota com lenço que acenara seu favor
vem esmagar-lhe o peito com rolo compressor.

As palavras não vêm mais com a varinha
aderir como a sarça ao odor que o mato tinha,
e o rosto, ovos que à frigideira alguém ponha,
esparrama seus olhos, que lambuzam a fronha.

Estás quente, à noite, em seis véus dissimulada,
na lagoa que vibra do fundo com a pancada,
onde, peixe asfixiado com o azul estrangeiro,
meu lábio em carne viva te alcançava primeiro?

Quisera ter orelhas de lebre costuradas à careca,
em florestas escuras levar chumbo quente à boca,
e por ti, do lago liso, das algas e pau a pique,
emergir e beijar-te como um não Titanic.

Mas nada está nas cartas, nem o traz o garçom;
dói dizer onde o cabelo negro mudou de tom.
Mais que o sangue, sobraram azuis as veias,
qual teia seca, sem fazer as meninges cheias.

E isso é tudo, minha amiga: o adeus não se adia.
Risca em teu bloco amarelo a última roda vazia.
Este círculo sou eu, liberado já de entranhas.
Olha um pouco, depois apaga o garrancho.

[joseph brodsky, trad. andrei cunha

domingo, outubro 22, 2006

Beatus qui tenebit / et allidet parvulos tuos / ad petram
Feliz de quem agarrar nas tuas crianças / e as esmagar contra as rochas!

7om zé: danç-êh-sá
Tom Zé, com Danç-Êh-Sá - Dança dos Herdeiros do Sacrifício, inaugura novo estilo pessoal, diverso, diferente, dançante. Lança um CD elaborado a partir de uma pesquisa de marketing da MTV; esta revelou, na juventude, uma inesperada tendência para o hedonismo, o consumismo e a irresponsabilidade social - "Para chegar a esses jovens, mudei tudo que já produzi e segui a sugestão de Chico Buarque de que a canção acabou." São 7 Caymianas para o fim da canção. "Sejam 7, sejam 70, é muito pouco, mas logo os antropólogos, jornalistas e cineastas se mobilizarão, concorrendo para que a juventude se engaje no projeto otimista que é ser o negro que somos, herdeiros do sacrifício de várias nações africanas, cujo sangue depurou a arte e a religião de 3 Américas - vejam-se o samba, a Tropicália ou o rock, o Hip-hop e o reggae." - Tom Zé

quinta-feira, outubro 19, 2006

Às vezes penso: o lugar é tremendo.
[ herberto helder e
izabel goulart ]

terça-feira, outubro 17, 2006

- Fluctuat nec mergitur.

segunda-feira, outubro 16, 2006

Gonzalo Millán (1947-2006)

Tengo puñados de ojos en la
frente
Cadenas de narices en la cara
Cardúmenes de bocas
Centenares de orejas
Millones de pelos.
No vengo de la unión de dos
cuerpos
Procedo de muchos y voy hacia
ellos.
Soy grande, pequeño, alto, bajo,
Gordo, flaco, cobrizo, negro,
blanco.
Somos uno solo sin nombre y
sin rostro.
Aquí me llamo Miles.

Item 3

Pequeno mistério policial
ou A morte pela gramática

Não amado mais escolher
entre mil serôdios programas,
e posto entre o tédio e o dever,
sabendo a ironia das camas

e tudo que - irisado - é vômito
sobre a rosa do amanhecer,
igualdade no ser, não-ser,
covardia de peito indômito,

mas possuidor de um atro armário
(para o que viesse a acontecer)
onde cartas, botas, o anuário
das puras modas de dizer

e uma faca pernanbucana
se compensavam sem saber,
eis que mergulhas no nirvana:
mas o aço, intato! Que fazer?


[ C.D.Andrade, Novos poemas, 1948

sexta-feira, outubro 13, 2006

Item 2

Item 1

quinta-feira, outubro 12, 2006

XIII

Pienso en tu sexo.
Simplificado el corazón, pienso en tu sexo,
ante el hijar maduro del día.
Palpo el botón de dicha, está en sazón.
Y muere un sentimiento antiguo
degenerado en seso.

Pienso en tu sexo, surco más prolífico
y armonioso que el vientre de la Sombra,
aunque la Muerte concibe y pare
de Dios mismo.
Oh Conciencia,
pienso, sí, en el bruto libre
que goza donde quiere, donde puede.

Oh, escándalo de miel de los crepúsculos.
Oh estruendo mudo.

¡Odumodneurtse!

[ césar vallejo, trilce

49

Quando a bic vira sonda - bico
cisca até no cimento, interrogando
mecânica, maníaca, o chão duro
impassível, insuspeito, simétrica e seco
e põe, nesse emprego, de cabeça para baixo
o ponto de interrogação, agora anzol
que busca algo em água nenhuma
pois desconfia que há outra vida
embaixo da casca da superfície limpa e lisa.
Aposta na existência, rugosa e úmida
da pedra submersa no mundo do pensamento
a ao imaginá-lo, a alimenta - lá dentro
aqui fora - e o que não foi peixe
é uma espécie e pássaro áspero
que se irradia no ar, direto da caixa-de-força.

15 viii 2003
[ armando freiras filhos, RaroMar, 2006

quarta-feira, outubro 11, 2006

40 anos novinho

Lentamente, é claro, a unha se afasta da carne de seu dedo.
Não, diz. Mas insisto. E com certa força.
As duas superfícies afastando-se um pouco mais.
Não, repetia. Um não diferente do primeiro.
Diferente na entonação. E provavelmente no sentido.
Chega, diz então. Talvez gritando.
As superfícies mesmo assim e ainda distantes.
Sinto muito. Já não é possível te ouvir. Digo
então para que poupe força. Sim, aqui os
instrumentos. Mas, veja, prefiro mesmo as mãos.
Insisto, voz inalterável: não é preciso que diga mais nada.
De novo um pouco de força entre a unha e a carne.
Sinto muito. Não podemos te ouvir. É assim mesmo.
Esqueça os nomes: gosto mais quando já não é possível ouvi-los.

terça-feira, outubro 10, 2006

Dois discos para esses tempos, ou melhor, para esses dias:

segunda-feira, outubro 09, 2006

legendinha para WillEisner

- Você primeiro.

Antipoética de Houdini

Atado pelos pulsos na cama
Arranco os fios à noite?
Mal acordo
E sou o Arranca-Fios!
Estude os nós
Tudo é desatável
Pela atenção paciente
Sou Houdini o mágico
Mas jamais afundaria nas águas
Acorrentado numa pedra

[ Sebastião Uchoa Leite

Querida, hoje saí de casa já muito ao fim da tarde
para respirar o ar fresco que vinha do oceano.
O sol fundia-se como um leque vermelho no teatro
e uma nuvem erguia a cauda enorme como um piano.

Há um quarto de século adoravas tâmaras e carne no braseiro,
tentavas o canto, fazias desenhos num bloco-notas,
divertias-te comigo, mas depois encontraste um engenheiro
e, a julgar pelas cartas, tomaste-te aflitivamente idiota.

Ultimamente têm-te visto em igrejas da capital e da província,
em missas de defuntos pelos nossos comuns amigos; agora
não param (as missas). E alegra-me que no mundo existam ainda
distâncias mais inconcebíveis que a que nos separa.

Não me interpretes mal: a tua voz, o teu corpo, o teu nome
já não mexem com nada cá dentro. Não que alguém os destruísse,
só que um homem, para esquecer uma vida, precisa pelo menos
de viver outra ainda. E eu há muito que gastei tudo isso.

Tu tiveste sorte: onde estarias para sempre – salvo talvez
numa fotografia - de sorriso trocista, sem uma ruga, jovem, alegre?
Pois o tempo, ao dar de caras com a memória, reconhece a invalidez
dos seus direitos. Fumo no escuro e respiro as algas podres.

1989

[Joseph Brodsky, trad. Carlos Leite

domingo, outubro 08, 2006

Do livro das viagens

Liliana Ponce não esqueceu o seu casaco no salão de chá
Liliana Ponce nem estava de casaco
(No Rio de Janeiro fazia um belíssimo dia de sol e dava gosto olhar cada ferida exposta na pedra)
Liliana Ponce, conseqüentemente, não teve que voltar à pressas para a casa de chá
(a garçonete com cara de flautista da Sinfônica de São Petersburgo não veio nos alcançar à saída acenando um casaco esquecido)
Desse modo Liliana Ponce chegou a tempo de pegar o avião
Partiu para a Argentina

[Carlito Azevedo, Sublunar, 2001

quinta-feira, outubro 05, 2006

quarta-feira, outubro 04, 2006

aquém das retinas
se o mundo destila peçonha
é porque as pedras do caminho
só no meio podem ser filosofais

dinheiro é vida
exclama deus
perdendo sangue todavia

e no último dia
a humanidade vai cair podre
da árvore onde ainda permanece
é a praga que eu rogo
laus deo

[maurício matos, aquém das retinas, 7letras, 2006



The 'In' Crowd

I'm in with the "In" crowd
I go where the "In" crowd goes
I'm in with the "In" crowd
And I know what the "In" crowd knows (How to have fun!)
Any time of the year, don't you hear? (How to have fun!)
Dressin' fine, makin' time
We breeze up and down the street
We get respect from people we meet
They make way day or night
They know the "In" crowd is out of sight
I'm in with the "In" crowd
I know ev'ry latest dance
When you're in with "In" crowd
It's easy to find romance (And we work out!)
At a spot where the beat's really hot (And we work out!)
If it's square we ain't there
We make ev'ry minute count
Our share is always the biggest amount
Other guys imitate us
But the original's still the greatest
We got our own way of walkin
We got our way of talkin' (Gotta have fun!)
Any time of the year, don't you hear (Gotta have fun!)
Spendin' cash, talkin' trash
Girl, I'll show you a real good time
Come on with me and leave your troubles behind
I don't care where you've been
You ain't been nowhere till you been in with "In" crowd

domingo, outubro 01, 2006




Raymond Chandler


– Adeus, Gandesi, –
disse, a voz fria.
– E mantenha o nariz longe de encrencas
se não quiser procurar
por ele debaixo da cama.
Henry então abriu a porta
e saímos os dois rapidinho.
Deixamos o Blue Lagoon
sem sermos incomodados
por funcionário algum.



-
(de A simples arte de matar, LPM, 1997)

- Mais um pouco.